MUQUI E SUA ETIMOLOGIA


Muqui; Muquy? São João do Muquy. São João dos Lagartos? Arraial dos Lagartos.

Cidade Menina, a origem do nome “Muqui” ainda permanece uma incógnita. Para entendermos a etimologia (sua história, origem etnomorfológica e transformação pelos anos até sua atual versão), primeiro precisamos entender a origem da própria cidade.

Originalmente “Arraial dos Lagartos”, sempre foi comum na região um tipo de lagarto terrestre (tropidurus comum), conhecidos pelos moradores como lagartixas, que subiam nas pedras espalhadas pela vila para se banharem ao sol durante o dia. É dito, porém, que a conexão desse nome com a cidade vai além do animal em que se inspira – diz-se o conhecimento popular que os habitantes da vila costumavam deitar ao sol durante a tarde, também, tal quais os lagartos de onde receberam a homenagem.

Em 1912, quando o município se eleva a condição de cidade e se desmembra do distrito de Cachoeiro de Itapemirim, recebe o nome São João do Muquy, abraçando o nome do rio que corta seu território de ponta a ponta. O Rio Muqui do Norte, então, é onde se inicia a pesquisa etimológica dessa palavra.

O território começou a ser explorado por colonos em cera de 1840, mas as terras já eram previamente habitadas por povos indígenas e pelo quilombo do Rio “Moquim” (região hoje conhecida como a cidade de Atílio Vivacqua), bem antes da chegada de José Pinheiro de Souza Werneck à Fazenda do Sumidouro, primeiro marco de “desbravamento” da região documentado na história. É importante notar que Muqui fazia parte de um terreno de confronto entre indígenas, disputado pelos povos Krenak (botocudos), Puris, Coroados e Coropós, com indícios da presença de Goitacás em suas matas ao sul.

A maioria dos habitantes nativos da área se encontrava no tronco linguístico Macro-Jê, compartilhando características em seus dialetos e linguagens. Nesse ponto, foi encontrado no Dicionário dos Botocudos de Bruno Rudolph (1909) o fonema Muki nas palavras Mukijep (“subir, escalar”) e Mukijap (“Ir rápido”).

Existe, também, um carrapatinho de água doce comum na região, conhecido pelo povo krenak como “Mucuim”, de onde se teoriza que a derivação do nome Muqui pode ter surgido, por se referir ao inseto que vive nos açudes e rio da cidade.

O significado mais comum, porém, e o informalmente disseminado pelos habitantes, é que Muqui se traduza para “Entre Morros” em Tupi-guarani, fazendo referencia aos montes que circundam o território do município. Equivocadamente os moradores mais antigos da cidade compartilham desse “senso comum” há anos, embora a palavra em tupi-guarani com este significado seja Camapuã (“colina em forma de seios”), termo que deu origem ao nome das cidades Camapuã-MG e Itabapoana-RJ, e não inclua fonemas parecidos com a grafia ou fonética de Muqui.

Em estudo realizado na Universidade Federal do Espírito Santo – UFES no ano de 2011, o pesquisador Filipe Fermino localizou-se no livro Topônimos e Epônimos Capixabas de J. W. Emery de Carvalho (1999) a palavra mbiqui, que significaria “Ponta de Lança”. Essa tradução também foi encontrada na obra a O Tupi na Geografia Nacional, de Teodoro Sampaio (1901), onde o mesmo significado é atribuído a palavra miquí, derivada de mbiqui, e que também poderia significar “assento” ou “traseiro”.

Como temos muitas possibilidades de tradução da palavra Muqui, ainda é preciso avançar nos estudos históricos e etmológicos para chegarmos a uma conclusão definitiva.

 

Texto por:

Filipe Firmino e Roberta Braga de Oliveira Formal

Filipe Siqueira Fermino, é graduado em Letras Português e Francês pela Ufes, mestre em Linguista (com ênfase em ensino de Tupi) e doutorando em Linguística, ambos pela Ufes. Trabalha como Secretário Executivo na Ufes e atuou em projetos junto aos indígenas Tupinikim e Guarani de Aracruz nos projetos Prolind e Saberes Indígenas.

 Roberta Braga de Oliveira Formal, é estagiária na Secretaria de Turismo e Cultura de Muqui, formada em Licenciatura em História pela Universidade São Camilo e atualmente estudante de pós-graduação em Antropologia.